quinta-feira, 31 de julho de 2014

A ultima gargalhada - Conto de Denise Bispo




A última gargalhada
    Faltavam 15 minutos para as 20h, quanto todos os integrantes do circo se reuniram no trailer do locutor. Estavam todos muito preocupados porque nos últimos anos o público diminuíra, mas nada explicava a arquibancada com duas pessoas, naquele sábado quente

- O que iremos fazer?- Disse a assistente do mágico.
- O espetáculo será cancelado? - Disse o malabarista, com voz triste, já que havia ensaiado muito para sua apresentação com fogo, naquele sábado.
- Chamem o palhaço! - Disse o locutor, interrompendo todas as indagações.

    De repente alguém bateu à porta.

- Deve ser o palhaço. - Cochichou a bailarina.
- Abram já essa porta! -Gritou o que batia.

    O mágico abriu a porta. Era um homem -e não o palhaço - e ele chorava.

- Por favor não cancelem o espetáculo! Minha filha pediu-me que a última coisa que gostaria de fazer antes de partir, era dar uma boa gargalhada, ela está... sniff sniff... morrendo.- disse o homem com a voz tremula e os olhos cheios de lágrimas.

    O palhaço - dono do circo-  estava chegando, ouviu o desespero daquele pai e se comoveu.

- Mas o palhaço não vai querer se apresentar...- Começou o mágico.
- Aprontem-se todos, hoje será o último espetáculo desse circo, e a minha última ordem é que dêem o melhor de si, pois usaremos a purpurina mágica da alegria.

    Todos arregalaram os olhos e cochicharam entre si. O homem ficou confuso.

- Purpurina mágica?!
- Mas palhaço... nós deveríamos usá-la apenas quando as arquibancadas estivessem cheias, para que todos ficassem contagiados com a magia da alegria! - Disse o bailarino.
- Que se dane o público, hoje a missão de vocês será ter confiança, pois só assim a purpurina terá efeito. - Disse o palhaço.
- Seja lá oque for, vocês são a minha última esperança, para fazer a minha filha rir. - E o homem saiu cabisbaixo.

    Todos já estavam prontos atrás da cortina. O palhaço deu uma espiada e avistou na terceira fila o homem e uma garotinha sem cabelos, com um casaco rosa e de aparência muito frágil. Pegou um saquinho vermelho aveludado, e soprou o pó brilhante no rosto de cada um. E todos se sentiram mais confiantes.
    O locutor deu início ao espetáculo.

- Boa noite senhoras e senhores, apresento-lhes a bailarina e o quebra nozes.

    A música começou a tocar e os bailarinos começaram a dançar, rodopiar e pular, sempre muito sorridentes, mas a garotinha apenas sorriu.
    Depois o mágico fez o seus melhores truques. Cortou sua assistente ao meio, tirou coelhos e pombos da cartola, e por fim desapareceu numa nuvem de fumaça, mas a garotinha apenas sorriu.
    O malabarista, jogou coisas pro ar, desde bolas, a pinos em chamas, e por fim soprou uma grande chama de fogo, mas a garotinha apenas sorriu.
    Todos já estavam apreensivos, agora só faltava o palhaço se apresentar. O locutor anunciou, a cortina se abriu, as luzes se apagaram e o holofote focou no palhaço.
    Uma música típica de circo tocou ao fundo, mas o palhaço não entrou sorrindo e pulando como de costume. Ele deu alguns passos para o centro do picadeiro, com as mãos no bolso, cabeça baixa, e com seu fiel companheirinho - o macaco- no ombro.
    O macaco arrancou a flor que enfeitava o chapéu do palhaço e levou até a garotinha, que sorriu com um lindo brilho nos olhos.
    Uma valsa tomou o lugar da música de circo e o palhaço começou a dançar. Chamou os dançarinos, o mágico e sua assistente, o malabarista, o locutor e por fim foi até a arquibancada e convidou a garotinha para dançar. Ela ofereceu-lhe sua delicada e pequena mãozinha e chamou o pai para que os acompanhassem.
    Fizeram uma roda e dançaram muito contentes, o palhaço colocou-a no braço e a jogou para cima e aparou logo em seguida, o pai se assustou, mas de repente uma gargalhada desengonçada e contagiante inundou aquele lugar, todos começaram a rir descontroladamente se deleitando da mais verdadeira gargalhada de todos os tempos.
    Mais tarde, depois que o espetáculo acabou, o homem retornou ao circo e bateu a porta do trailer do palhaço.
    Ele abriu a porta e o convidou a entrar.

- O que você quer? - Perguntou o palhaço.
- Quanto o Sr. quer para me dizer a fórmula da purpurina mágica da alegria?
- Hmm... - O palhaço puxou uma gaveta e tirou um pedaço de papel amassado e uma caneta, escreveu rapidamente e entregou ao homem. - Pode ficar, não quero seu dinheiro.
   
A caminho de casa o homem abriu o papel e leu:
1- Purpurina;
2- Paz;
3- Confiança;
4- Fé;
5- Esperança

   
Então ele percebeu que não existia nenhuma receita da alegria, a verdadeira fórmula da felicidade estava no coração de quem acredita.


Um grande abraço e até a próxima.
Denise Bispo