A última gargalhada
Faltavam 15 minutos para as 20h, quanto
todos os integrantes do circo se reuniram no trailer do locutor. Estavam todos
muito preocupados porque nos últimos anos o público diminuíra, mas nada
explicava a arquibancada com duas pessoas, naquele sábado quente
- O
que iremos fazer?- Disse a assistente do mágico.
- O
espetáculo será cancelado? - Disse o malabarista, com voz triste, já que havia
ensaiado muito para sua apresentação com fogo, naquele sábado.
-
Chamem o palhaço! - Disse o locutor, interrompendo todas as indagações.
De repente alguém bateu à porta.
-
Deve ser o palhaço. - Cochichou a bailarina.
-
Abram já essa porta! -Gritou o que batia.
O mágico abriu a porta. Era um homem -e não
o palhaço - e ele chorava.
-
Por favor não cancelem o espetáculo! Minha filha pediu-me que a última coisa
que gostaria de fazer antes de partir, era dar uma boa gargalhada, ela está...
sniff sniff... morrendo.- disse o homem com a voz tremula e os olhos cheios de
lágrimas.
O palhaço - dono do circo- estava chegando, ouviu o desespero daquele
pai e se comoveu.
-
Mas o palhaço não vai querer se apresentar...- Começou o mágico.
-
Aprontem-se todos, hoje será o último espetáculo desse circo, e a minha última
ordem é que dêem o melhor de si, pois usaremos a purpurina mágica da alegria.
Todos arregalaram os olhos e cochicharam
entre si. O homem ficou confuso.
-
Purpurina mágica?!
-
Mas palhaço... nós deveríamos usá-la apenas quando as arquibancadas estivessem
cheias, para que todos ficassem contagiados com a magia da alegria! - Disse o
bailarino.
-
Que se dane o público, hoje a missão de vocês será ter confiança, pois só assim
a purpurina terá efeito. - Disse o palhaço.
-
Seja lá oque for, vocês são a minha última esperança, para fazer a minha filha
rir. - E o homem saiu cabisbaixo.
Todos já estavam prontos atrás da cortina.
O palhaço deu uma espiada e avistou na terceira fila o homem e uma garotinha
sem cabelos, com um casaco rosa e de aparência muito frágil. Pegou um saquinho
vermelho aveludado, e soprou o pó brilhante no rosto de cada um. E todos se
sentiram mais confiantes.
O locutor deu início ao espetáculo.
-
Boa noite senhoras e senhores, apresento-lhes a bailarina e o quebra nozes.
A música começou a tocar e os bailarinos
começaram a dançar, rodopiar e pular, sempre muito sorridentes, mas a garotinha
apenas sorriu.
Depois o mágico fez o seus melhores
truques. Cortou sua assistente ao meio, tirou coelhos e pombos da cartola, e
por fim desapareceu numa nuvem de fumaça, mas a garotinha apenas sorriu.
O malabarista, jogou coisas pro ar, desde
bolas, a pinos em chamas, e por fim soprou uma grande chama de fogo, mas a
garotinha apenas sorriu.
Todos
já estavam apreensivos, agora só faltava o palhaço se apresentar. O locutor
anunciou, a cortina se abriu, as luzes se apagaram e o holofote focou no
palhaço.
Uma música típica de circo tocou ao fundo,
mas o palhaço não entrou sorrindo e pulando como de costume. Ele deu alguns
passos para o centro do picadeiro, com as mãos no bolso, cabeça baixa, e com
seu fiel companheirinho - o macaco- no ombro.
O macaco arrancou a flor que enfeitava o
chapéu do palhaço e levou até a garotinha, que sorriu com um lindo brilho nos
olhos.
Uma valsa tomou o lugar da música de circo
e o palhaço começou a dançar. Chamou os dançarinos, o mágico e sua assistente,
o malabarista, o locutor e por fim foi até a arquibancada e convidou a
garotinha para dançar. Ela ofereceu-lhe sua delicada e pequena mãozinha e
chamou o pai para que os acompanhassem.
Fizeram uma roda e dançaram muito
contentes, o palhaço colocou-a no braço e a jogou para cima e aparou logo em
seguida, o pai se assustou, mas de repente uma gargalhada desengonçada e
contagiante inundou aquele lugar, todos começaram a rir descontroladamente se
deleitando da mais verdadeira gargalhada de todos os tempos.
Mais tarde, depois que o espetáculo acabou,
o homem retornou ao circo e bateu a porta do trailer do palhaço.
Ele abriu a porta e o convidou a entrar.
- O
que você quer? - Perguntou o palhaço.
-
Quanto o Sr. quer para me dizer a fórmula da purpurina mágica da alegria?
-
Hmm... - O palhaço puxou uma gaveta e tirou um pedaço de papel amassado e uma
caneta, escreveu rapidamente e entregou ao homem. - Pode ficar, não quero seu
dinheiro.
A caminho de casa o homem abriu o papel e
leu:
1-
Purpurina;
2-
Paz;
3-
Confiança;
4-
Fé;
5-
Esperança
Então ele percebeu que não existia nenhuma
receita da alegria, a verdadeira fórmula da felicidade estava no coração de
quem acredita.
Um grande abraço e até a próxima.
Denise Bispo
Denise Bispo